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segunda-feira, 11 de julho de 2016

Paulo não era um dos doze





         Ora, os nomes dos doze apóstolos são estes: primeiro  
         Simão, por sobrenome Pedro e André, seu irmão;
         Tiago, filho de Zebedeu e João, seu irmão;
         Fiipe e Bartolomeu;  Tomé e Mateus, o publicano;
         Tiago, filho de Alfeu e Tadeu;
         Simão, o zelote e Judas Iscariotes, que foi quem o
         Traiu.

                                      Mt 10.2-4                           


     Começo essa segunda postagem do mês, praticamente como iniciei e terminei a anterior, evocando os doze discípulos escolhidos pessoalmente pelo grande Rabi da Galiléia (Judas foi substituído, após a morte de Jesus, conforme relato no livro de Atos, por Matias.). Foram eles quem receberam as instruções diretas, sem interpretações de terceiros, acerca do Reino de Deus e outros tantos mistérios ocultos desde os tempos dos profetas. Não quero, pois, perdê-los de vista para introduzir meus fiéis leitores a continuação desta que bem poderia ser uma programação de natal ou de páscoa aqui do blog. Que os doze privilegiados apóstolos conduzam-nos e perdoem a minha ignorância se por acaso faltar-lhes eu com o devido respeito.
            Coloco-me, despretensiosamente, na condição de estudante e admirador confesso do Mestre Nazareno, sem que para isso tenha eu filiação formal a alguma instituição religiosa de orientação cristã. Acredito que os ensinamentos proferidos por Ele, a dois mil anos atrás, ainda encontram-se atuais e têm o poder de transformar o mundo num lugar mais justo e harmonioso. Apesar disso, criticamente analisando, constato que as palavras de um teólogo acabaram, ao longo dos séculos, sendo a majoritária fonte de inspiração às doutrinas ensinadas pela esmagadora maioria das igrejas.
            De fato, á começar por grande parte do livro de Atos, nada menos do que catorze livros dedicam-se a traduzir o pensamente de Paulo, alguém que jamais esteve com Jesus em vida, sobre a missão do Filho de Deus. Acredito, sim, no arrependimento sincero de um ser humano, no entanto, como a própria Bíblia testifica, Paulo fora um assassino e implacável perseguidor dos primeiros cristãos. Minha limitada compreensão, ao menos num primeiro instante, não consegue vislumbrar justificativas sólidas para ele ser, da noite pro dia, alçado ao patamar de mais respeitado apóstolo do Senhor. Toda a sua pseudoautoridade está sustentada na visão que teria tido do Jesus glorificado e sem corpo de carne e osso. Perdoem-me quem pensa o contrário, mas não posso deixar em branco a oportunidade de comentar que acho essa história um pouco estranha. Alguém que não foi pessoalmente treinado pelo principal Rabi instrutor das escrituras judaicas, alavancado à condição de incontestável líder cristão...
             Se acharam escandalosa, herética essa minha posição, alarmar-se-ão ainda mais com a seguinte. Defendo, ainda numa aspiração quase solitária, que se discuta, estude e questione a composição do Novo Testamento bíblico, procedendo-se uma imparcial análise da autenticidade dos diversos escritos dispersos que, direta ou indiretamente, narraram a passagem do Filho do Homem sobre a Terra. Não tenho dúvida que existem, entre tantos textos apócrifos não incluídos no cânone sagrado da Bíblica, outras narrativas que contribuiriam significativamente para avançarmos em conhecimento sobre esse personagem histórico que tantos corações cativa. Interesso-me, da mesma forma, em seguir os passos dos discípulos e entender o que ensinaram, viveram e como desapareceram. Onde foi parar Simão? Qual o destino de Mateus? Terá escrito alguma coisa Filipe? Pra onde viajou Tiago? Existirão mais relatos sobre Pedro? André terá compartilhado alguma coisa em determinada cidade? Pra que lado foi cada um deles, afinal?
            Conforme já devem ter percebido, proponho uma sacudida na fé cristã, religando-a as suas origens primitivas, através dos seus autênticos vetores de transmissão. Hierarquicamente falando, cada um dos doze possui inestimável bagagem de conhecimento e experiência direta com o Messias, merecendo destaque igual ou maior que Paulo nas escrituras sagradas. Tenho que confessar, a primeira vez que ouvi tudo isso, classifiquei como imperdoável blasfêmia. À medida que fui imparcialmente ponderando os fatos, comparando os ensinamentos de Paulo com os de Jesus, percebi que existiam, com efeito, pontos conflitantes. Não mergulharei nestes na presente crônica, para evitar uma overdose de escândalos que exigiriam ampla dissertação teológica. Respeitarei, pois, as convicções daqueles que até aqui sentiram-se ofendidos e irritados, deixando para outras oportunidades uma análise mais detalhada sobre o cisma.
           Atrevo-me a dizer, sem cometer o sacrilégio de prever o dia e a hora, que a volta de Cristo está atrelada a revelação de seus ensinamentos ofuscados pelo tempo e pelas interpretações paulinas. A graça divina, sem dúvida, poderia ter repousado na cabeça de quem ela julgasse apto para a tarefa missionária. Sabemos que Deus manifestou-se particularmente a hebreus como Abraão, Moisés e Jacó, que não haviam convivido com grandes mestres. Pondero-me, no entanto, porque Jesus teria criteriosamente escolhido e instruído doze homens para que, posteriormente, as suas pegadas caíssem em quase total esquecimento?
      
      Respeitosamente, em memória aos apóstolos.
                                              Cesar






           

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